O Expresso Roraima entrevistou, com exclusividade, o Pastor Joseph Junior, coordenador da Frente Democrática Evangélica , pelo PT

Por Luciana Leão
Postado em , atualizado em: 30/08/2023, 12:18

Foto: Arquivo Expresso Roraima

Em entrevista especial ao Expresso Roraima, o Pastor Joseph Júnior, coordenador da Frente Democrática Evangélica, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em Roraima, trouxe notícias propositivas e perspectivas de crescimento frente aos desafios do estado com menor PIB do país, e também mais isolado.

O turismo cultural, étnico e ecológico também é outro setor destacado pelo pastor Joseph. Quem já não se encantou com a bela paisagem do Monte Roraima?, questiona o pastor.

Outro dado singular do Estado foi constatado no Censo 2022: a população indígena em Roraima é de 97.320 pessoas, sendo que 71.412 vivem em terra indígena (73,38% do total).

Além disso, o Censo 2022 revelou que ficam em Roraima as terras indígenas do Brasil onde vivem mais pessoas indígenas: Em primeiro, a Terra Indígena Yanomami, com 27.152 pessoas indígenas; Em segundo, a Raposa Serra do Sol, com 26.176 pessoas indígenas.

EXPRESSO RORAIMA: Começando por esse ponto, Roraima está se destacando como um estado propício ao crescimento econômico. Uma das razões-chave é sua proximidade com o mercado exterior. Como o senhor enxerga essa vantagem geográfica impactando o desenvolvimento econômico do estado?

Pastor Joseph Júnior: Certamente, a localização de Roraima próxima a mercados em crescimento, como a Guiana e o Suriname, abre portas para oportunidades comerciais significativas. Isso, combinado com reservas comprovadas de petróleo na Guiana, cria um cenário propício para impulsionar o crescimento econômico através da exportação e possivelmente da criação de portos secos na fronteira.

A gente vê no mercado exterior um volume de crescimento e expansão. Para o estado de Roraima, significa uma potencialidade grande, até com a criação de portos secos na região de fronteira do estado de Roraima, fazendo limite com o país da Guiana. E também a Venezuela, que, apesar de todos os entraves, é um país rico em petróleo, tem grandes riquezas naturais.

EXPRESSO RORAIMA O senhor havia mencionado que o crescimento do agronegócio tem se tornado um fator de destaque na economia de Roraima. Como a política voltada para o setor, como a abertura de fronteiras promovida pelo governo do Estado, está influenciando o crescimento e a diversificação econômica do estado?

Pastor Joseph Júnior: A política agrícola proativa do governador Antonio Denarium abriu portas para investimentos significativos no agronegócio, com destaque para culturas como soja, milho e grãos. 

Essa abordagem tem atraído investidores de outras regiões,  como o Sul do país, contribuindo para o impulso econômico do estado e para a diversificação de sua base produtiva.

EXPRESSO RORAIMA: Falando em diversificação, o senhor mencionou a importância de um comércio futurista para Roraima. Poderia explicar melhor o que quis dizer com isso e como tais empreendimentos poderiam impactar a economia local?

Pastor Joseph Júnior: Claro, quando falo em comércio futurista, estou me referindo a empreendimentos inovadores que atendam às necessidades em crescimento da população, como condomínios residenciais e centros de entretenimento, shopping centers. Há uma demanda para esse segmento. 

O investimento em áreas como imóveis, turismo e comércio, aliado à disponibilidade de recursos da população local, poderia criar um ambiente econômico mais dinâmico e atrativo. As pessoas querem isso. Querem novidades. O empresário que queira investir em Roraima precisa ter essa visão de inovação, de um estado em processo de transformação.

O comércio futurista que eu falo é empreender no ramo imobiliário, fazer um condomínio fechado, vários condomínios. A capital de Roraima, Boa Vista, tem demanda para tais empreendimentos fechados, mas alguém tem que ter coragem de ir lá, de investir, de abrir tais negócios. Eu acho que Boa Vista precisa de mais empreendimentos que despertem a curiosidade das pessoas. Eu acho que é isso que precisa.

EXPRESSO RORAIMA: Em relação ao turismo, como o senhor enxerga a mudança da percepção de Roraima, de uma terra de índios e garimpo, para um destino turístico mais amplo?

Pastor Joseph Júnior: A transformação da imagem de Roraima é fundamental para atrair o turismo. À medida que as pessoas de fora perceberem a diversidade cultural e os recursos naturais únicos do estado, o turismo poderá ganhar impulso. 

Desmistificar estereótipos e destacar as belezas naturais pode ajudar a abrir novas portas para o crescimento econômico através do turismo. Temos aqui em nosso Estado, o Monte Roraima, conhecido em todo o mundo, nossos rios e toda a beleza nos 15 municípios que fazem parte do Estado.

EXPRESSO RORAIMA:  Quando o senhor menciona a atividade do garimpo, qual sua opinião sobre isso?

Pastor Joseph Júnior – Veja, na minha visão o garimpo ilegal deve ser combatido. O garimpo gerou muita renda, porém, sou defensor de preservar o meio ambiente. Os governos precisam ter políticas claras e concretas  para adequar tais áreas. O Ministério do Meio Ambiente pode criar áreas brancas. Temos que estudar formas de combater a degradação dos rios, com o despejo sem controle de mercúrio nas águas.

TRANSIÇÃO X CRISE ENERGÉTICA

EXPRESSO RORAIMA: Roraima enfrentou desafios em relação à sua oferta de energia elétrica devido à sua localização geográfica isolada da rede elétrica nacional. Por muitos anos, o estado dependeu da energia fornecida pela usina termelétrica movida a diesel, o que levou a altos custos de energia e preocupações ambientais.  Em qual situação o estado se encontra hoje?

Pastor Joseph Júnior – Roraima é o único estado que não tinha ligação com o Sistema Interligado Nacional de energia elétrica. 

Em 2002, no primeiro governo Lula, a energia que abastecia o Estado vinha da Venezuela. Com Bolsonaro, houve um retrocesso. Ele cortou tal convênio. A maior necessidade hoje do estado de Roraima é fazer a ligação de nosso Estado ao Linhão de Tucuruí.

Entretanto, uma guerra ideológica encabeçada por Bolsonaro prejudicou que esse processo avançasse. O Linhão de Tucuruí envolve a construção de linhas de transmissão de energia elétrica que ligariam a usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, até Manaus, no Amazonas, passando por Roraima. 

Enquanto, não estivermos interligados ao Linhão de Tucuruí, Roraima não vai avançar em sua infraestrutura energética e, dessa forma, o estado ainda permanece dependente da importação de energia da Venezuela.

QUESTÃO TERRITORIAL

EXPRESSO RORAIMA: A presença dos povos indígenas e ainda uma problemática de conflitos em zonas territoriais é uma realidade em quase toda a Amazônia. Sendo assim, o território de Roraima é marcado por uma significativa porcentagem de reservas indígenas. Como essa presença indígena influencia os desafios de alavancar a produção econômica no estado?

Pastor Joseph Júnior: É um ponto crucial. As reservas indígenas têm implicações na produção econômica, limitando o acesso a determinadas áreas. No entanto, tanto o governo estadual quanto o governo federal têm se esforçado para criar mecanismos que permitam uma convivência mais harmoniosa e uma ativação econômica, buscando equilibrar os interesses de todas as partes envolvidas. 

EXPRESSO RORAIMA: Como tem sido essa convivência? Poderia nos detalhar…

Pastor Joseph Júnior – Conflitos envolvendo terras indígenas são desafios complexos e persistentes, resultado da diferença cultural e histórica entre comunidades indígenas e não indígenas. Embora haja conflitos, é animador ver que os governos têm trabalhado para minimizar essas situações, promovendo um diálogo construtivo e buscando soluções que beneficiem a todos.

EXPRESSO RORAIMA: Nessa temática de territórios, o senhor mencionou recentemente uma conquista  na questão da titulação das terras. Como o senhor vê o impacto dessa titulação, especialmente em relação ao desenvolvimento do estado?

Pastor Joseph Júnior: A titulação das terras é uma conquista importante e simboliza uma maior segurança jurídica, inclusive para quem queira investir em nosso Estado. Graças aos esforços do governador Antônio Denário, parte das terras foi transferida, permitindo que Roraima tenha mais controle sobre seu território. Isso é essencial para a expansão econômica e o crescimento do estado.

Hoje nós podemos dizer que as terras que nós temos, apesar do grande índice de ser indígena, mas o pouco que nós temos não era nosso, e hoje, graças a Deus, nós temos essa titulação, graças à iniciativa do governador Antônio Denário que, na minha visão é um dos maiores governadores que o Estado já teve, trabalhando para destravar o Estado, fazer o Estado crescer.

A ECONOMIA DO CONTRACHEQUE

EXPRESSO RORAIMA: Roraima tem na sua base econômica a dependência de transferência de recursos federais. Somado a isso, ainda possui muita presença do funcionalismo público, como principal empregador. Poderia comentar sobre isso? Algo mudou?

Pastor Joseph Júnior: Roraima  vem passando por uma transformação econômica significativa nas últimas décadas. O estado evoluiu de uma economia baseada em recursos limitados para uma economia mais diversificada e dinâmica.

Hoje, não se observa mais um cenário, por exemplo, de pessoas nas ruas passando por dificuldades como antigamente. Mas, existe ainda , diria que mais de 70% das pessoas trabalham nos setores públicos. Mas, isso está mudando, com as novas fronteiras de negócios que se abrem a partir do mercado exterior, do comércio, do turismo ecológico.

 

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