Setor de alimentos orgânicos apresenta crescimento expressivo de 30% nas vendas
Por Redação
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Dado se refere a 2020, quando setor movimentou R$ 5,8 bilhões
Uma pesquisa realizada por cientistas da UFRGS e UTFPR apontou falhas no levantamento de dados referente ao cultivo de orgânicos no Brasil, apesar do país ter vastas terras cultiváveis e ser um dos principais mercados agrícolas do mundo. A pesquisa utilizou dados do Censo Agropecuário de 2017 do IBGE, Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Mapa e informações de consumo de pesquisas da Organis e Sebrae. Os resultados foram publicados na revista científica _Desenvolvimento e Meio Ambiente_.
De acordo com uma pesquisa, a agricultura orgânica ocupa 1,28% das áreas de cultivo, sendo 30% delas no Sudeste do Brasil. Cerca de 0,6% das áreas agrícolas do país são dedicadas à agricultura orgânica, com 36.689 estabelecimentos produzindo vegetais e 17.612 produzindo animais. Além disso, 10.389 estabelecimentos produzem tanto animais quanto vegetais orgânicos.
“A oferta ainda não está bem esclarecida. A pesquisa mostra que há tendência de aumento da demanda, mas que a produção não suprirá essa demanda. Isso não está muito bem claro e precisa ser melhor estudado. Não está claro também os produtos que são mais demandados”, disse a pesquisadora da UFRGS Andreia Lourenço.
Para a pesquisadora, para melhorar esse quadro, é preciso abrir mais instâncias de participação na sociedade para construir isso junto com o consumidores e com produtores, já que esses espaços de discussão são essenciais para a elaboração de políticas públicas adequadas para os diferentes contextos existentes no Brasil.
Para Carla Guindani, da empresa Raízes do Campo, que atua no setor de orgânicos da agricultura familiar, é necessário que haja investimentos nesse setor, principalmente para o desenvolvimento de tecnologias para produção de sementes, o que é a base de todo esse processo, porque são essas famílias que de fato fazem a produção agroecológica no Brasil hoje. Ela destacou ainda a importância do acesso a bioinsumos, maquinários adequados e da certificação de alimentos orgânicos.
“Hoje há muito essa dúvida sobre comercializar e depois certificar porque é um processo caro e geralmente o agricultor não tem esse recurso. Poderia se criar uma metodologia e um incentivo de certificação sem a participação tão expressiva das certificadoras privadas que têm esse alto valor agregado”, disse.
Segundo ela, a logística também impacta no preço dos produtos, porque não há eficiência para fazer a distribuição. Outro item é a comercialização da produção orgânica, já que o varejo precisa compreender o novo momento vivido com a crescente demanda pelo consumo desses produtos.
“O varejo precisa aumentar o espaço na gôndola para oferecer os produtos agroecológicos para o consumidor e entender que esse segmento tem um valor agregado e que o consumidor está buscando esse tipo de produto. O preço sempre é o fator limitante e a gente vai diminuir o preço quando houver o aumento de consumo. E, quando há tecnologias adequadas para produção, diminui o custo da produção, e esses alimentos chegam ao supermercado e ao consumidor com preço mais acessível.”
Ela analisou ainda que a agroecologia é o único caminho que resta para a humanidade frear as mudanças climáticas. “Elas estão aí é são a prova da necessidade e da urgência de mudarmos os nossos hábitos de consumo e de relacionamento com o meio ambiente. O desmatamento, os monocultivos e o uso intensivos de agrotóxicos vêm cada vez mais provando ser um modelo inviável.”
Para Carla, a mudança de hábitos é necessária para criar um mecanismo e situações nas quais o relacionamento com o meio ambiente aconteça a partir da preservação e da regeneração. “E esse protagonismo está na agricultura familiar.”
Com informações Agência Brasil