Reforma tributária: o que muda na cesta básica, combustÃvel e serviços do dia a dia
Por Redação
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A reforma tributária simplificará a tributação sobre o consumo e provocará mudança na vida dos brasileiros na hora de comprar produtos e serviços.
O novo sistema tributário terá impactos diferentes em cada setor da economia, com exceções e alÃquotas especiais para vários produtos, incluindo medidas para garantir a progressividade na tributação de patrimônio e transmissão de heranças. O Congresso terá que votar leis complementares para regulamentar a reforma tributária e os projetos serão enviados nas primeiras semanas de 2024, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Também no próximo ano, o governo poderá dar inÃcio à reforma do Imposto de Renda, com mudanças como a taxação de dividendos (parcela de lucros das empresas distribuÃdos aos acionistas). Nesse caso, porém, as mudanças ocorrerão por meio de projeto de lei, com quórum menor de votação.
Confira como a reforma tributária mudará o dia a dia do consumidor:
Cesta básica
Um dos itens que mais gerou polêmica na reforma foi a tributação da cesta básica. O Senado havia criado duas listas de produtos. A primeira com a cesta básica nacional, destinada ao enfrentamento da fome. Essa cesta terá alÃquota zero e poderá ter os itens regionalizados por lei complementar.
Os senadores haviam criado uma segunda lista, chamada de cesta básica estendida, com alÃquota reduzida para 40% da alÃquota-padrão e mecanismo de cashback (devolução parcial de tributos) a famÃlias de baixa renda. O relator da reforma na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), no entanto, retirou essa lista, sob o argumento de que boa parte dos alimentos é beneficiada pela alÃquota reduzida para insumos agropecuários.
Atualmente, os produtos da cesta básica são tributados em cascata, com tributos incidindo sobre o preço na etapa anterior da cadeia. A isenção de tributos federais barateia os produtos, mas impede o aproveitamento de créditos tributários. No sistema de IVA dual, a devolução dos créditos tributários compensaria a cobrança de impostos. A alÃquota do IVA dual só será definida após a reforma tributária. O novo redutor de 60% e a futura alÃquota zero deverão baratear os produtos, mas o impacto final só poderá ser calculado após a reforma tributária entrar em vigor. Itens mais industrializados terão redução maior de preços, enquanto alimentos in natura ou pouco processados terão poucos créditos tributários e poderão ter redução leve ou até aumento.
Remédios
O texto aprovado prevê a alÃquota reduzida em 60% para medicamentos e produtos de cuidados básicos à saúde menstrual. O Senado incluiu na lista de alÃquota reduzida produtos de nutrição enteral e parenteral, que previnem ou tratam complicações da desnutrição.
Segundo especialistas, a reforma não deverá trazer grandes impactos sobre o preço dos medicamentos. Isso ocorre por dois motivos. Primeiramente, os medicamentos genéricos estão submetidos a uma legislação especÃfica. Além disso, a Lei 10.047, de 2000, estabelece um regime tributário especial a medicamentos listados pelo Ministério da Saúde.
O Senado também incluiu na isenção de IVA a compra de medicamentos e dispositivos médicos pela administração pública e por entidades de assistência social sem fins lucrativos. A Câmara dos Deputados tinha zerado a alÃquota para medicamentos usados para o tratamento de doenças graves, como câncer.
CombustÃveis
A reforma tributária estabelece um regime de tratamento diferenciado para combustÃveis e lubrificantes. O IVA dual, com alÃquota única em todo o território nacional e variando conforme o tipo de produto, será cobrado apenas uma vez na cadeia produtiva, no refino ou na importação. A mudança segue uma reforma proposta em 1992.
Durante a tramitação no Senado, no entanto, foi incluÃda a possibilidade de cobrança do Imposto Seletivo, tributo sobre produtos que gerem danos à saúde e ao meio ambiente, sobre combustÃveis e petróleo (para a extração de petróleo e de minérios, haveria alÃquota de 1%). Durante a votação na Câmara nesta sexta-feira, o PSOL tentou elevar essa alÃquota, mas os deputados derrubaram o destaque.
Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o imposto seletivo deve gerar R$ 9 bilhões em arrecadação, considerando apenas a exploração de petróleo, sem os demais minérios.
Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o regime diferenciado levará a uma forte alta do preço final aos consumidores. Especialistas, no entanto, afirmam que o impacto é incerto porque muitos pontos do regime diferenciado para os combustÃveis serão definidos por lei complementar e a reforma prevê a possibilidade de concessão de créditos tributários. Além disso, o impacto só será conhecido após a definição da alÃquota cheia do IVA dual.
VeÃculos
A cobrança de Imposto sobre a Propriedade de VeÃculos Automotores (IPVA) passará a incidir sobre veÃculos aquáticos e aéreos, como jatos, helicópteros, iates e jet ski. A reforma também estabelece que o imposto passará a ser progressivo conforme o impacto ambiental do veÃculo. VeÃculos movidos a combustÃveis fósseis pagam mais. VeÃculos movidos a etanol, biodiesel e biogás e os carros elétricos pagarão menos IPVA.
O Senado acatou uma emenda da senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) e incluiu a compra de automóveis por taxistas e pessoas com deficiência e autismo entre os itens com alÃquota zero. O benefÃcio existe atualmente e seria extinto com a reforma tributária.
Em julho, durante a primeira votação na Câmara, os deputados criaram uma lista de exceção para evitar a cobrança sobre veÃculos usados para a agricultura e para serviços. A relação abrange os seguintes tipos de veÃculos: aeronaves agrÃcolas e certificadas para prestar serviços aéreos a terceiros; embarcações de pessoa jurÃdica com outorga de serviços de transporte aquaviário; embarcações de pessoa fÃsica ou jurÃdica que pratique pesca industrial, artesanal, cientÃfica ou de subsistência; plataformas que se locomovam na água sem reboques (como navio-sonda ou navio-plataforma); e tratores e máquinas agrÃcolas.
No Senado, a prorrogação, até 2032, de um incentivo para montadoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste elevou as tensões. Na primeira votação, em julho, a Câmara havia derrubado a prorrogação desse incentivo. Na primeira versão do relatório no Senado, o incentivo foi prorrogado apenas para a produção de carros elétricos, mas a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa estendeu o benefÃcio a montadoras de veÃculos movidos a biodiesel e a veÃculos hÃbridos movidos a biodiesel e a gasolina.
Isso gerou mal-estar entre os governadores do Sul e do Sudeste, que alegaram desigualdade de condições com as montadoras instaladas nas duas regiões. Na sexta-feira, o relator Aguinaldo Ribeiro concordou em manter o benefÃcio no texto-base, mas destacar esse ponto. Diferentemente da primeira votação na Câmara, onde o incentivo obteve 307 votos, um a menos que os 308 necessários, os deputados mantiveram o benefÃcio por 341 votos a favor, 153 contra e quatro abstenções.
Com informações Agência Brasil